segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dois mil e nove

Um ano cheio de boas vibrações a todos.
Um ano com menos capitalistas morféticos.
Um ano com mais compaixão e menos aproveitadores.
Um ano cheio de feriados e que eu tenha que compensa-los até outubro, hahaha.
Um ano com menos coelhinhos da páscoa, menos papai noel e mais realidade.
Um ano em que alguns de nós possamos usar um pouco mais de 10% do cérebro em prol de coisas boas.
Um ano que será difícil, porque sei que cada um se preocupa com o seu.
Então, que o meu ano seja bom. E certamente será.
=)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal

Temos uma vida pra tentar agregar alguma coisa. Cada ano 365 dias.
Até a hipócrita religião insiste em dizer que o natal deve ser a data de reflexão.
Afinal, qual o papel da religião?
Minha crença diz que devo ser uma pessoa imparcial durante todos os meus dias, respeitando o fluxo e sentido correto das coisas.
O homem é a coisa torta, que vai contra todos os princípios.
Positivo sou eu porque sei me afastar daquilo que me gera dúvida e é incerto.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Cinza

Ruas, ando por elas e vejo pessoas com olhares preto "fosco"(sem brilho). O que o capitalismo faz com todo mundo?
Vemos filmes de zumbis e muitas pessoas nem imaginam que o que eles passam é muitas vezes aquilo que a maioria delas mesmas vivem.
Ser, ter, poder... são os males que aprendemos a amadurecer. Ninguém amadurece uma boa idéia, soluções para todos. Pensamos "EU", pensamos pequeno demais.
Quando eu nasci já tive um forte impacto negativo, da primeira pessoa que me deu o tapa.
Que bom se o carinho do acolhimento de nossas mães, o carinho maternal instintivo fosse engrandecendo na gente.
Tenho plena certeza que não precisariámos viver nesse mundo cinzento, cheio de discórdia, inveja e falta de união.
Juro que luto, embora veja que minha luta é pequena por ter que me preocupar em resolver resultados, lucro e crescimento de algo que não é meu.
Apenas concordo que através dele me torno cada dia melhor como humano, e isso eu tenho cobrado, de mim, de quem está ao meu redor.
Uma pequena agulha no palheiro eu sou, mas certamente alguém vai sentar e rolar nela e sentir muito minhas "agulhadas".
Aqui estou, estou aqui pra isso.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

"Vamo" lá

Seguindo a vida sem manuais, sem me afetar por problemas de outros, embora na maioria das vezes eu os ajude.
Difícil colocar na cabeça das pessoas que oportunidades nos engrandecem. A minha falhou.
Recusei um trabalho provavelmente bem melhor que o meu hoje. (4,5 pernas / mês)
Aparentemente, pois locais com pessoas de maior nível hierárquico é sempre sinal de aborrecimento e não oportunidade.
Não estou triste nem feliz por isso, apenas vivo cada momento sem guardar dúvidas. Ou é, ou não é, sem 8 ou 80. Ser feliz com razão é o segredo pra minha pessoa.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Evoluir

Evoluir não quer dizer que a tecnologia está no auge. Não quer dizer que o mundo fica mais confortável por fazermos cada vez menos.
Evoluir pede muito mais de nós do que podemos oferecer hoje. Não é conhecimento em física, química, matemática, etc...
Pra mim evoluir é a forma qual você trata a vida, as pessoas, suas diferenças e crescimento interior.
Refletir quando alguma coisa que fez não te agrada, é parte da evolução pura. Sinal de que sua base será sólida.
Evoluir é o oposto de regredir. Regredimos quando nosso sentimento nos faz querer ter coisas que serão inúteis pós vida.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Motivação

Motivação quer dizer “ter motivos”, “estar motivado a fazer algo”.
Podemos ver a junção de duas palavras “motivo + ação”. Pois são meus motivos que levam às minhas ações.
Faço determinada coisa porque tenho motivos para fazer.
Motivação é diferente de estímulo.
Estímulo vem de fora como por exemplo um bom salário, um bom clima na empresa com as chefias e colegas de trabalho, bons benefícios, etc.
Motivação vem de dentro. Só eu sinto, só eu sei os motivos que me levam a fazer alguma coisa.
Certa vez, escutei a seguinte história:
Estive casada com um sujeito que fumava dois maços de cigarro por dia e um dia ele chegou e colocou um maço na estante, olhou pra mim disse: -mulher, deixe este maço aqui... não mexa, porque a partir de hoje eu não fumo mais...
Ora, a minha inteligência riu. Meu conhecimento me disse que aquele homem acostumado com tanta nicotina no sangue não ia parar de uma hora para outra...
Ele iria ficar nervoso, brigar comigo, ter a tal síndrome de abstinência. Fumar escondido, na rua, no banheiro. Mas não ia parar. Não ia...
Mas parou.
Depois daquele dia, nunca mais ele pegou num maço de cigarro, nem levou nenhum cigarro à boca... incrível, não?
E isto nos leva a pensar.... o que leva a pessoa a terminar aquilo que começa? De onde tira forças para ultrapassar os momentos mais difíceis sem desistir? Quando desistir é o caminho mais fácil!
Em sala sempre faço um teste com meus alunos quando o tema é motivação:
-levante a mão aqui quem já entrou em algum curso de idiomas e parou.
-levante a mão aqui quem já tentou aprender um instrumento musical e abandonou.
-levanta a mão aqui quem já começou a fazer um regime e parou. (neste momento eu também levanto, aliás as duas mãos...rs)
-levante a mão aqui quem já começou a ler um livro e desistiu.

Pois é...
Muuuuuitas pessoas levantam a mão.

E como mudar isso?

O que preciso fazer para terminar aquilo que comecei? Como não esmorecer?

Aí vem a história novamente da motivação.
E é preciso lembrar que a motivação mora dentro da gente e é como uma Bela Adormecida que precisa ser despertada com um beijo do príncipe encantado.
Este beijo só você pode dar... Ninguém mais. A Bela acorda por você, pelos motivos que levam às ações que você tem e deseja ter.
O problema é que a gente sempre espera o príncipe encantado para ser feliz. Para então acordar a motivação.
Somos também o príncipe... o sapo... a bela...
Estamos sempre achando que vamos ser felizes amanhã quando conseguir comprar a casa própria, quando terminar a faculdade, quando os filhos crescerem, quando... quando... quando... sempre amanhã!

Lembre-se que a sua mãe ama você, mas ela não vai aprender inglês por você. Que seu tio é uma sumidade, mas ele não vai passar no concurso público por você. A sua felicidade depende de você e você é feliz por você. Não pelos outros. Não amanhã: Hoje!
Repita sempre: Eu posso! Eu consigo! Eu sou feliz!

Desplugue-se

Desde que nasceu, você tem sido educado, adestrado, amansado para ser quem a sociedade quer que você seja. Quando você nasceu, ninguém perguntou se você iria querer ser músico, médico, baterista de heavy metal ou monge budista. Simplesmente obrigaram você a estudar um monte de coisas chatas e fizeram você aceitar as idéias da sociedade, sobre o que é certo ou errado, sobre o que é bonito ou feio, sobre o que é bom ou ruim. Você não teve escolha. Seguiu um caminho pré-constituído, como todo mundo faz. Você faz parte da massa, é como uma ovelha dentre milhões de ovelhas. E ovelhas não têm opinião própria, não conversam entre si. Ficam apenas seguindo um pastor, que pode estar levando todas as ovelhas para um campo cheio de alimentos, ou pode as estar levando para um matadouro.

Em outras palavras, sua mente foi programada. Você foi programado, condicionado para acreditar naquilo que a sociedade quer que você acredite. É incrível como as pessoas acreditam em um monte de coisas sem fundamentação alguma. As pessoas frequentam uma determinada religião, e seguem um monte de mandamentos ridículos, só porque foi assim que ensinaram. Nunca param para questionar se existe alguma verdade naquilo em que acreditam.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Deu "leg"

Hoje fui obrigado a ouvir que a educação vem da escola.
Bom, fazer sexo e colocar no mundo é fácil.
Assumir que a cria saiu do eixo por culpa própria pra que?
Colapso!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Bravo

Protógenes se diz surpreso com declarações de diretor da PF.

O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz afirmou na quinta-feira que considera uma "surpresa" que "combater a corrupção" possa significar uma ação partidária. Ele falou em resposta a uma declaração do diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, que justificou o afastamento do delegado do setor de inteligência da PF pelo fato de ele ter atuação "próxima da questão partidária", o que seria incompatível com a função.

"Por combater a corrupção, por não querer atrocidades contra a sociedade, contra o meu país, isso pode ser classificado como cunho ideológico-partidário? Isso para mim é uma surpresa", disse em Fortaleza, onde esteve para palestrar em um evento promovido pelo Ministério Público Estadual.

"A população brasileira está indignada com o que está acontecendo. Então, a indignação do povo brasileiro é filiação partidária?", questionou. Ele negou que seja candidato a cargos públicos e disse que quer apenas atuar na função à qual a direção da PF o designar.

Ele também negou qualquer aproximação especial com o PSOL, partido que encabeçou uma moção de apoio a ele. Em Fortaleza, o delegado foi recebido por políticos de diferentes partidos, como o PT e o PDT, mas também do PSOL.

Protógenes deu palestra sobre o tema "corrupção no Brasil" e apresentou sua própria biografia como um exemplo da construção de um homem honesto. "Formou-se uma pessoa destinada a combater a corrupção", disse o delegado, depois de relatar sua infância, na qual a leitura de jornais substituiu a de livros infantis.

Em entrevista, ele negou que a Operação Satiagraha, que culminou com a prisão do banqueiro Daniel Dantas, tenha utilizado métodos ilegais para chegar às provas, e afirmou que a participação de agentes da Abin é legal. "Essa não foi a primeira operação da Polícia Federal a ter apoio da Abin e não vai ser a última", disse.

Protógenes confirmou que o agente da Abin Marcio Seltz, que depôs anteontem à CPI dos Grampos, trabalhou na operação, mas coletando dados de "fontes abertas". Ele não comentou o teor do depoimento do agente, que admitiu ter entregue ao então diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, um arquivo com parte dos grampos colhidos na investigação, o que é vedado à instituição.

Na palestra, após enumerar os políticos e empresários poderosos que já prendeu, Protógenes afirmou que continuará a combater a corrupção.

"A corrupção é um crime que considero hediondo, é um crime contra a própria humanidade, em que se desvia notadamente recursos públicos sangrados da saúde, da educação. Combater a corrupção no Brasil hoje é dever de cada cidadão, não só de um servidor público da Polícia Federal, mas de cada um de nós", afirmou.


Pois é meu caro Protógenes, quase todo mundo nesse planeta é corrupto. Basta mostrar a grana que qualquer um rola, da cambalhota e late feito cão interesseiro. TSC, TSC, nos falta um justiceiro para limpar essa corja de sujos e sem moral.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

República

O INIMIGO DA REPÚBLICA: A CORRUPÇÃO

Qual a sua idéia de corrupção? É quase certo que você fale em desvio, por um administrador desonesto, do dinheiro público. É a idéia que se firmou hoje em dia. Mas, antes disso, a corrupção era termo mais abrangente, designando a degradação dos costumes em geral.

Como a corrupção veio a se confinar no furto do bem comum? Talvez seja porque, numa sociedade capitalista, o bem e o mal, a legalidade e o crime acabam referidos à propriedade. Por analogia com a propriedade privada, o bem comum é entendido como propriedade coletiva - e até como bem condominial, aquele do qual cada um tem uma parcela, uma cota, uma ação.

Mas o bem comum é diferente, por natureza, do bem privado. No estatuto de uma sociedade comercial, é obrigatório incluir o destino a dar aos bens, caso ela se dissolva. Se constituo uma firma com um sócio, caso a fechemos repartiremos os bens que pertencem a ela. Mas isso é impossível quando se trata da coisa pública. Há certos "bens" que só ela produz e que não podem ser divididos: virtudes, direitos e uma socialização que não só respeita o outro como enriquece, humanamente, a nós mesmos.

Pensar o mau político como corrupto e, portanto, como ladrão simplifica demais as coisas. É sinal de que não se entende o que é a vida em sociedade. O corrupto não furta apenas: ao desviar dinheiro, ele mata gente. Mais que isso, ele elimina a confiança de um no outro, que talvez seja o maior bem público. A indignação hoje tão difundida com a corrupção, no Brasil, tem esse vício enorme: reduzindo tudo a roubo (do "nosso dinheiro"), a mídia ignora - e faz ignorar - o que é a confiança, o que é o elo social, o que é a vida republicana.

UM TEMA REPUBLICANO

Pode haver corrupção em outros regimes, mas sem esse nome ou sem os perigos que traz para a república. Lembremos a tipologia de Montesquieu: há três regimes, monarquia, república e despotismo. O despotismo é um fantasma; reside no Oriente; é a grande ameaça à política, porque nele tudo é comandado pelo desejo. Os súditos do déspota desejam muito, porque, com os nervos excitados, são sensíveis a toda impressão externa. Daí que sejam lúbricos, luxuriosos, imediatistas.

O império da lei é impossível sob o calor. Não havendo autodisciplina, só pela irrestrita repressão externa se dá o controle social. Para conter o desejo sexual das mulheres, é preciso trancá-las num harém e castrar os homens que as vigiam. No calor, governar é reprimir.

O curioso é que nesse regime -- mais uma caricatura que um retrato fiel dos sultanatos orientais -- não há o tema da corrupção. Como se corromperia um regime cuja essência já é a degradação (a corrupção) do ser humano? Mesmo que os ministros saqueiem os cofres, não existe, no despotismo, uma regra da honestidade, uma medida do equilíbrio, um padrão da decência. Sem regra, medida ou grau, não há como falar em desregramento, em desmedida, em degradação. A corrupção só cabe quando o regime social e político valoriza o homem. Não é o caso do despotismo.

Será o da monarquia? Nela, o princípio é a honra, e portanto uma valorização está presente. O nobre preza mais a honra que a própria vida. É isso o que limita o arbítrio do soberano. Mas há dois pontos a assinalar. Primeiro, poucos têm honra - só os grandes. Segundo, a monarquia é uma hábil construção para que de um princípio filosoficamente falso - a desigualdade natural entre os homens - decorram resultados socialmente positivos. A engenharia política aqui faz que o mal produza o bem.

O preconceito é valorizado na monarquia. Dele resulta uma sociedade que, se respeita a lei, não é pela repressão externa, nem pela autodisciplina ou pela convicção de que é justo acatá-la. Em suma, na monarquia há um uso sábio daquilo que, em linguagem republicana, seria corrupção: ela dá bons frutos. Há privilégios, há desigualdade, há apropriação privada do que seria o bem público. Mas isso é da essência do regime, e é usado por ele para evitar males piores, que estariam no arbítrio do rei, tornado déspota. E por isso não é correto falar, aqui, em corrupção.

Corrupção só pode haver, como nome, num regime que a vê como negativa, como má - num regime cuja existência é diretamente ameaçada por ela. É a república. Seus padrões são altos. Nela, o bem pessoal é requisito para produzir o bem social. Individualmente, tenho de agir bem. Só quem atinge esse nível de conduta é cidadão, na república. Ou, inversamente, apenas dos cidadãos se pede esse patamar de comportamento. Não se exige isso das mulheres, escravos, estrangeiros e de todos os que terão uma cidadania reduzida ou negada. Em outras palavras, a república é o regime da ética na política.

A CORRUPÇÃO ANTIGA

Há dois tipos de corrupção, na república, conforme ela seja antiga ou moderna. Na república romana, falava-se em corrupção dos costumes. O cidadão romano é o pater famílias. O nome "pai de família" não quer dizer que ele tenha filhos: seu significado é político e não biológico. Ele é o chefe da família, o varão que nela manda. Se um menino perder o pai e o avô, pode ser pater ainda bebê. Será "pai" de sua mãe, avó, tios e irmãos.

O pater manda na casa. Costuma-se dizer que a lei romana lhe conferia direito a punir e até matar as mulheres a ele subordinadas, mesmo a mãe, a esposa, as irmãs. Não é bem isso. É pior. Nenhuma lei lhe dá esse direito, simplesmente porque o membro da cidade é ele, e não as pessoas suas subordinadas. Elas não são cidadãs, mal têm identidade pública. Punir quem pertence a sua "família" é direito privado do pater, e não público.

O eixo do controle que o pater exerce sobre os seus passa pela moral. Um homem que não controle as mulheres que dele dependem é infame e será punido pelos magistrados que cuidam da moral. Essa moral não é apenas sexual (a vitoriana será exagerada e centralmente sexual), mas em parte o é. Discrição, autocontrole, contenção são alguns de seus termos principais.

É talvez em Roma que se elabora, ou se aprimora, um traço fundamental das sociedades mediterrânicas, que ainda perdura em alguma medida: a idéia de que a mulher não tem honra própria, mas porta a honra - ou desonra - do homem seu senhor. Violar ou desrespeitar uma mulher se torna assim a melhor via para infamar seu marido, irmão ou pai. Quem perde a honra não é ela, são eles. Daí que, ao se vingarem, eles às vezes matam também a mulher que - mesmo se foi violentada - serviu de veículo para eles serem desonrados.

Portanto, na república antiga, o centro da corrupção são os costumes. É preciso as pessoas serem decentes, para que haja república. Nisso se inclui a contenção sexual, mas sobretudo a capacidade de fazer passar o bem comum à frente do pessoal. Evoquemos Múcio Cévola, que - estando Roma cercada - vai ao acampamento dos inimigos matar o general deles. Erra e é preso. Vão executá-lo. Mas ele queima o próprio braço numa chama, sem um gemido sequer de dor, dizendo que assim o castiga pelo fracasso de seu intento. Horrorizados, apavorados diante de gente tão resoluta, os inimigos debandam.

Não há prova dessa história, que talvez não passe de lenda, mas o importante é que ela educou gerações de romanos na convicção de que o fim público passa à frente de qualquer elemento particular. Como escravos, mulheres e estrangeiros não sentem assim, é óbvio que não terão a dignidade de cidadão.

Contrastemos a coragem de Múcio Cévola com a dos exércitos orientais, descritos por Montesquieu nas Cartas Persas (lembrando sempre que ele exagera em suas referências ao mundo islâmico). Os soldados do sultão se batem até a morte, mas - diz ele, na carta 89 - sua valentia não é a de quem preza a si próprio, e sim a de quem se despreza. É medo (ao sultão) tornado coragem (diante do inimigo). Não é o caso do romano. A cidade é o que o realiza. É o que dá sentido à sua vida.

Daí, finalmente, que na república antiga a educação seja fundamental. Ninguém age - naturalmente - como Múcio. Pela natureza estamos mais perto da conduta feminina. As mulheres são os seres mais naturais. Querem satisfazer seus desejos. Desejam enfeitar-se, ter prazer. Precisam ser contidas - a fim de contermos nossa tendência natural a ser como elas. A educação do cidadão será permanente, pois em última análise pode fracassar. Não é uma educação como a moderna, que desde o Emílio de Rousseau (Émile, ou_De l'éducation_, 1762) acredita em transformar o ser humano em algo melhor e estável. A educação do cidadão antigo é interminável, porque não há como estabilizar seu produto. O homem pode - sempre - decair e corromper-se.

A LIBERDADE PESSOAL

A corrupção moderna é outra. É verdade que, quando a França institui sua Primeira República, durante a Revolução, muitos sonham com Roma, mais talvez que com Atenas. Mas isso não dura. E já os Estados Unidos, ou antes deles a Inglaterra monárquica, mas constitucional, haviam-se aberto para uma república de exigências aliviadas - como veremos com Mandeville.

Benjamin Constant (1767-1830), político liberal franco-suíço de tanto impacto no século 19 que um republicano brasileiro foi batizado com seu nome, criticou aqueles, como Rousseau, que davam tal importância à Antiguidade que não conseguiam ver as reais características dos novos tempos. Esse foi, disse, o erro dos revolucionários que quiseram restaurar a sociedade antiga, na qual a coletividade era tudo e o indivíduo, nada.

Para os antigos - explica Constant - a liberdade importante era a da pólis grega, da civitas romana. O cidadão aceitava sacrificar-lhe tudo. Mas nos tempos modernos a liberdade que conta é a do indivíduo, que não admite ser oprimido pelo coletivo. A coletividade para nós é um peso, um fardo. O convívio político e mesmo social se tornou custoso. Ampliou-se enormemente a vida privada, como área de produção econômica, como tempo de lazer e como espaço em que escolho os valores e fins mais preciosos de minha vida.

Disso resultam duas coisas. Primeiro, aumenta incrivelmente nossa liberdade - insistindo: como indivíduos, como pessoas. Escolho minha profissão, minha religião, meu amor. Cada vez preciso dar menos satisfação disso. Mas, se isso passa a constituir minha liberdade, é porque se esvazia o alcance social das escolhas. Se antes do século 17 tantas sociedades puniam severamente quem adotava uma religião distinta da dominante, era porque passava pela religião o elo social. Quando um budista se abstém de carne, um muçulmano de vinho, um judeu de porco, ele dá à sua religião um alcance bem maior do que no mundo leigo que a modernidade cristã construiu.

O que significa o casamento se tornar escolha pessoal? A justificação romântica é que assim escolho um cônjuge com o coração. Mas quer isso dizer que eu seja mais feliz? Não é óbvio. O casamento como contrato entre famílias tinha menor sentido sexual e sentimental, mas seu alcance social fazia dele um espaço de maior satisfação pública. Modernamente, estamos condenados a buscar a realização, a felicidade, no plano privado, quase íntimo. Perdemos a dimensão pública e sofisticamos a particular, a pessoal. Não é uma crítica; é uma constatação. Houve ganhos, mas também custos, uns e outros enormes.

A segunda conseqüência da modernidade é, assim, a redução do espaço público. Tornou-se exíguo. Os costumes passaram, de sociais ou grupais, a individuais. Surgiu a vida psíquica como campo cada vez maior de indagação, de perplexidade, de escolha. Ora, isso torna praticamente absurdo pensar em costumes como fiadores da república. Quando o valor básico é o da realização pessoal, como queimar a mão ou sacrificar a sexualidade a um ideal social? Ao contrário: se alguém nos propuser um ideal que passe por tais custos pessoais, provaremos que só pode ser um falso ideal, gerador de males sem fim e até de doenças. E provaremos isso tão bem quanto um antigo provaria o contrário.

A CORRUPÇÃO DESPOLITIZADA

Mas a idéia de corrupção dos costumes não desapareceu de um momento para o outro: provavelmente passou por duas fases. Para os antigos, ela ameaçava a república. Quando a França retoma uma república mais próxima da romana, em 1792-3, a corrupção e seu antônimo, a virtude, voltam à cena. Mas isso dura pouco. Daí a dois anos, Robespierre, o Incorruptível, é deposto e guilhotinado. Na vitória dos moderados - ou corruptos, como outros os vêem -, é interessante que as roupas femininas se tornem vaporosas e que em fins da década de 1790 mulheres da sociedade até exibam em público os seios nus.

Poucas sociedades se dispõem a pagar, pela república, o preço da contenção dos costumes; talvez o último movimento a fazê-lo tenha sido o Khmer Rouge, que tomou o poder no Camboja em 1975 e chacinou um terço da população, querendo purificá-la. Alguns temas republicanos, reativados em nossos dias, correm o risco de resultar em crime contra a humanidade.

Essa foi a primeira fase, tentando-se reciclar Roma em Paris. Mas não sumiu o tema da corrupção dos costumes. Não deu certo articulá-lo com a república, mas ele ressurgiu, fortíssimo, com os vitorianos. É curioso: Constant mostrou que não pagaríamos, pela república moderna, o sacrifício de nossa vida íntima. Mas se pagou esse preço, pela monarquia moral da rainha Vitória. A contenção dos costumes veio não com a república, com o regime da autonomia ou do autogoverno, mas com o da heteronomia, do moralismo, das reverências à realeza.

Nessa segunda fase, a corrupção tornou-se tema exclusivamente moral. Sustentou, é claro, uma política - mas sustentou-a de maneira não clara e explícita, como na república romana, e sim implícita e indireta. Até porque a contenção dos costumes era apresentada não como a condição para uma política (se quiserem ser livres politicamente, abram mão da liberdade íntima), e sim como a única conduta decente. No século 19, quando alguns religiosos cristãos, chocados com o deboche sexual dos polinésios, procuraram ensinar-lhes um modo tido como decente de ter relações sexuais (o papai-mamãe, como chamamos, ou a missionary position, como ficou conhecido em inglês), o que faziam era transmitir essa moral única para toda a humanidade. A política - no caso, a destruição de uma cultura em proveito da ocidental - vinha a reboque, discreta, escondida.

Enfim: a contenção e a corrupção dos costumes deixaram de ser tema explicitamente político e essencialmente republicano. Ocultaram a dimensão política e favoreceram a opressão. Nossos políticos da República Velha podiam ler Cícero e reprimir as mulheres de sua família: com isso nada efetuavam de republicano. Temas romanos podiam ser repetidos, mas tinham-se tornado vitorianos.

NOSSO PROBLEMA

A corrupção continua, porém, sendo um tema republicano - só que com outro sentido, outro conteúdo. Ela ainda é o grande perigo para a república. Como esta valoriza o bem comum, todo desvio dele para o particular a ameaça. Mas nossa idéia de corrupção é mais fraca que a antiga.

Chamamos de corrupção o furto do patrimônio público. Ora, isso faz esquecer que o bem público tem natureza distinta do bem particular ou da propriedade privada. Muitos se referem ao Estado como se fosse equivalente a um indivíduo ou empresa. Com isso, ficam na perspectiva patrimonialista, cujos problemas vimos no capítulo anterior.

Uma saída para a pouca importância, hoje, do tema da corrupção seria apostar na educação. Diríamos: a corrupção ameaça a república, mas não se resume no furto do dinheiro público. O corrupto impede que esse dinheiro vá para a saúde, a educação, o transporte, e assim produz morte, ignorância, crimes em cascata. Mais que tudo: perturba o elo social básico que é a confiança no outro. Quem anda por nossas ruas, com medo até de crianças pequenas, e depois se espanta com a descontração das pessoas em outros países pode sentir o preço que pagamos por não vivermos numa república - por termos um regime que é republicano só de nome.

A saída educativa é indispensável. Mas ela exige dar à educação dos costumes um sentido distinto do que teve no antigo pensamento republicano. Não se trata mais de conter a sexualidade, de promover a castidade e a discrição. Os costumes viáveis, a educação desejável em nosso tempo têm a ver com a realização pessoal. Será preciso combinar essa promoção de si com o respeito devido ao outro. E será necessário, mais que tudo, recuperar - ou reinventar - a idéia de que haja algo, no espaço comum a todos, que seja mais do que um simples arremedo social da propriedade privada.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vida

Só pra afirmar que impossíveis são somente as coisas pós morte, pois a gente não sabe o que há pós vida. (pergunto isso a um pastor e ainda me divirto...)
Engraçado que cada a dia sinto que a vida está passando e embora as coisas estejam nos trilhos, sei que falta algo e estou perdendo oportunidades.
O lado bom é que consigo abrir a mente para repensar certas coisas e isso tem me ajudado a lidar com as questões menos comuns.
Há momentos que estou extremamente apaixonado, e que bom que são maioria. E há alguns em que me sinto normal, como uma leve brisa.
Após o almoço estiro minha rede e fico a observar os movimentos, entender porque somos tão cegos em ver que tudo é simples quando se encara a vida com simplicidade e quando deixamos fluir o tempo.
Experimente chacoalhar o leito de uma poça d'agua, bagunçar a trilha das formigas e
observar o que acontece.
A vida é simples, aprendemos a ser complicados.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Energia



O poder está em você. O que podemos está em nós...